Crônica: Horário de Pico

20:00 Laís Coyado 1 Comments

(Imagem autoral)

Mal nasceu o sol e o despertador anuncia num som gritante e infernal: são seis da manhã. Rafael mal abre os olhos e sente o arrependimento chegar... Ficara até duas da manhã assistindo série e curtindo sua fossa (dias antes Mariana tinha terminado o namoro dos dois por alegar que Rafael não prestava atenção nela...mal sabia ela que Rafael não prestava atenção na vida há tempos)

Vestiu-se, tomou um café e pegou sua pasta para partir rumo ao escritório de advocacia do pai, cujo lugar detestava. Pegou um ônibus e depois o metrô, um percurso de quase uma hora e meia, percurso que ele fazia de segunda à sexta e sempre ouvindo música depressiva, música para sua atual fase amorosa.

Passaram-se dois meses até o término de seu namoro e ele ainda estava mal, com a situação e consigo mesmo. Todos os dias perguntava-se o que havia feito de errado. E a resposta era: não havia feito nada. Este era justamente o problema. Logo após ter aceitado o emprego no escritório do seu pai, Rafael abandonou seu maior sonho, o de ser músico, e de quebra abandonou todos os outros também, o de viajar de balão para Capadócia, o de construir um abrigo gigante para cachorros de rua, o de amar verdadeiramente alguém e ser amado, o de construir uma família, ter filhos, uma boa vida, ser feliz.

Eram 17:30. Horário de pico no metrô Paulista. Muitas pessoas, pessoas que nem se conhecem mas que são gentis umas com as outras. Pessoas com vidas totalmente diferentes do Rafael, e algumas bem parecidas.

A porta do metrô abre, pessoas despereradas para voltarem pras suas casas após um dia exaustivo se aglomeram e empurram outras pessoas para poderem entrar no metrô. Camila cai praticamente no vão. Camila: garota magra (até demais), de 24 anos, produtora musical e no momento do acidente usava uma camiseta que ela mesma produzira, com o logo de sua banda preferida: Tame Impala.

Rafael ajuda a moça a não cair, segura forte em seu pulso magro e a tira do chão. O coração dele acelera, como se por um instante de mágica ele voltasse a ver graça na vida, nas pessoas, nas cores e nos amores. Ambos decidem esperar o próximo metrô, e depois o próximo, e depois outro.. E ficam por horas conversando naquela estação. Ela contando da sua profissão, o quanto ama ter um motivo para pegar o metrô lotado todos os dias. Ele mal consegue falar de sua vida, mas já começa a imaginar a próxima fase da mesma: tem que ser com Camila. Todos os dias. Meses se passaram, Rafael e Camila agora namoram. Rafael largou o emprego que não o fazia feliz, começou a cursar música, montou uma banda Indie e faz shows em bares. Camila: nunca mais o largou.

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